A informação na Era das Redes Sociais


A internet democratizou o meio de propagação da informação. Se, antes, estava restrito a alguns órgãos ou empresas de comunicação, hoje, qualquer pessoa pode e tem o poder de publicar um artigo, opinião ou trabalho através das redes sociais ou blogs.

A democratização da informação, entretanto, não melhorou a qualidade da mensagem. Ao contrário, ajudou na disseminação de trabalhos superficiais, baseados em observações afastadas da realidade, com julgamentos distorcidos dos fatos. Consequentemente, gerou mais confusão e menos conhecimento de alto valor. 

Num mundo tão complexo, em que a expertise e o saber especializado são mais exigidos, paradoxalmente, o professor, o profissional, o estudioso e o expert estão sendo substituídos por amadores e pessoas sem qualificação sobre os assuntos. Conhecimento abalizado já não é tão importante, transformando opiniões pessoais em fatos e achismos em comprovações científicas.  

Andrew Keen, escritor e empresário do Vale do Silício, há mais de dez anos, no livro "O Culto do Amador - como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores" (editado no Brasil pela Jorge Zahar), chamou atenção ao que chama de "nobre amador". Diz, com propriedade, "como muitos mecanismos de buscas de sites da web promovem popularidade em vez de confiabilidade, é fácil proliferar desinformação e rumores na ciberespaço... a ideia de objetividade está se tornando cada vez mais ultrapassado no reino relativístico da web, onde blogueiros selecionam informações e promovem a especulação e tiram como fatos" (Michiko Kakutani, autora de "A Morte da Verdade - Notas sobre a Era Trump" e colunista do Jornal New York Times - edição de 29/06/2007). 

Em outras palavras, os fatos já não mais importam e sim a versão que damos a eles

Junte-se a isto, o que os psicólogos e economistas comportamentais chamam de "viés cognitivo", que é a ação inconsciente de procurar e aceitar só as informações que confirmem suas crenças. A web do "nobre amador" - aliado aos mecanismos do Google e Facebook -  só ajuda a reforçar a visão de mundo do sujeito, conectando-o com outras pessoas que pensam de forma igual, formando-se um bolha com a realidade distorcida, acirrando "as disputas pela verdade", libertando o animal primitivo adormecido e tornando o debate público, sobre qualquer assunto, desde futebol até o pão com mortadela, numa guerra do "nós contra eles". 

"Tom Nichols, escreveu em Death of Expertise, que uma hostilidade deliberada contra o conhecimento estabelecido havia surgido tanto na direita como na esquerda, com pessoas argumentando de forma agressiva que "toda opinião sobre qualquer tema é tão boa quanto a outras". Agora, a ignorância está na moda." (in: A Morte da Verdade  Notas sobre a Era Trump, de Michiko Kakutani, Editora Intrínseca). 

Daí, porque a ciência e o conhecimento estão sendo tão desprezados por questões políticas e ideológicas. Movimentos terra-planistas, anti-vacinas, teorias da conspiração estão encontrando na web o terreno fácil para espalhar o medo, a mentira e a ignorância. 

Inevitavelmente, populistas apropriam do discurso "fácil" e a democracia - que não é somente o regime da maioria mas principalmente a aceitação da minoria - vai se esvaindo, destruindo o maior e mais importante valor da sociedade judaica-cristã: a liberdade. 

 


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